“A identidade étnica, assim como a língua materna
é elemento de constituição da criança.” (Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Infantil – MEC, Brasil)
Retomo ao trabalho do TCC pois o que
alavancou a pesquisa foi o fato de ter, durante o estágio na EJA em 2018,
alunos haitianos que durante as aulas costumavam falar na sua língua materna.
Considerando o sentimento dos alunos de
não perderem sua cultura e identidade, fiz a
solicitação aos alunos que evitassem em falar na sua língua materna em
sala já que o objetivo deles terem procurado e de estarem na escola é o de
aprenderem o português tanto na oralidade como na escrita. Embora pondere que
mesmo reconhecendo a importância da conservação da sua cultura por estar
distante do seu país natal, compreendo que se houve a necessidade de estarem em
uma escola para poderem aprender a língua nativa tornasse imprescindível que
durante as aulas eles usem pouco o crioulo[1].
Quando um dos alunos haitianos colocou o seu medo,
ou receio, de esquecer a sua própria língua: "Vez ou outra esqueço uma
palavra, mas esquecer do crioulo não vou nunca. Esqueço palavras que talvez não
lembrasse mesmo se estivesse no Haiti”.
Pondero quem nunca esquece ou já tenha
esquecido uma palavra? Muitas vezes eu preciso fazer associações para lembrar
alguma palavra e sua aplicação e, embora eu leia e dê aulas. Considero que esse
sentimento de perda da sua língua materna seja na realidade o seu receio,
Junior, de ser esquecido pela sua filha que ficou no Haiti.
Nessa situação avalio que identidade cultural
é uma ligação entre as relações sociais e de patrimônios simbólicos
historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores
entre os membros de uma sociedade. Sendo este um conceito intenso e de tamanha
complexidade, é compreensivo que estes alunos não desejam desconsiderar sua
identidade manifestando-se no que lhe é mais fácil de revelar: sua fala.
Contudo é importante que, morando em outro país, eles possam apropriar-se da
nova cultura que possui muitos pontos em comuns com a sua. Inclusive o que
observei no decorrer do estágio que algumas histórias haitianas possuem uma
similaridade com a cultura Africana que influenciou a cultura brasileira e
podemos ver nas histórias, na culinária e na música. Aqui, lembro-me de Stuart
Hall (2006, p.9) que comenta sobre as mudanças que estão ocorrendo e a
fragmentação dos panoramas culturais, sociais, gênero, etnia, raça e
nacionalidade que, no passado, embasavam e sustentavam a nossa identidade como
indivíduos integrados em um ambiente social.
[1] Crioulo
- Apresenta dois dialetos distintos: o fablas e o plateau. Muitos haitianos
falam quatro línguas: crioulo, francês, espanhol e inglês. A outra língua
oficial do Haiti é o francês, idioma no qual o crioulo
do Haiti se baseia, sendo que 90% do seu vocabulário vêm
dessa língua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário