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Construindo aprendizagem juntos. |
Minha
História Profissional
Iniciei minha vida
profissional como tia em uma creche particular.
Após um tempo, fui
contratada como professora em uma escola infantil que trabalhava na
linha construtivista. Foi o meu primeiro contato com uma realidade
escolar mais estruturada, onde aconteciam reuniões semanais e
estudava teóricos desta linha, planejando as ações e como os
alunos seriam avaliados. Esta estrutura organizada possibilitou que
eu me apropriasse da identidade de professora. Era importante sempre
buscar referencias para embasar o trabalho pedagógico. Nesta escola
tive o primeiro contato com um aluno NES. Era um menino autista. Por
necessidade de como lidar com este aluno, busquei entender quais
seriam suas necessidades e como poderia ajudar a sua socialização e
como manejar com este aluno. Foi incrível observar alguns avanços
nos dois anos de convivência.
Quando entrei na EMEI
Parque dos Maias, a Rede Municipal tinha como Secretaria de Educação
Esther Grossi que incentivou o trabalho com o construtivismo.
Nesta época era muito
interessante observar nas reuniões pedagógicas as trocas e o quanto
estava construindo no fazer pedagógico as linhas de ações com os
alunos. A reunião pedagógica mensal acontecia na sexta-feira quando
a escola fechava e o grupo de trabalho trocava ideias, observações
do que acontecera e faziam o planejamento para o próximo período.
Também realizavam combinações sobre as festas cíclicas onde todos
deveriam contribuir com materiais e o que cada nível da escola,
desde o berçário até o jardim B, deveriam elaborar com seus
alunos.
Nos momentos, e foram
muitos nesta caminhada, em que as escolas em que trabalhei e
trabalho, parou para discutir o PPP, o Regimento Escolar foram muito
importante pois participando destes momentos pude acrescentar mais
experiências de aprendizagem. Em cada etapa buscava novas falas e
embasamento teórico para validar estes documentos. Inclusive,na EMEI
Érico Veríssimo quando elaboramos o currículo da escola foram
necessários vários encontros onde em cada etapa avaliávamos se o currículo estava realmente caracterizando a comunidade com a qual trabalhávamos.
O que estes movimentos de
parada para estudos contribuíram para minha prática profissional?
Muito, pois em cada
movimento em que participei fui reavaliando minha prática em sala de
aula e revendo que escola quero, o que desejo atingir com o aluno e o principal como pretendo auxiliar na aprendizagem do aluno.
A cada ano de trabalho na
rede municipal, sempre tive turmas com alunos NES ou então turmas
diferenciadas como BP e A30 onde os alunos estavam com idades
distorcidas, mas que ainda não estavam alfabetizados.
Com turmas de progressão
(BP), foram anos de intensa aprendizagem pois havia um sentimento de
esconder estes alunos pois apresentavam dificuldades de aprendizagem
e comportamental. A cada momento, pois em Bp o aluno pode entrar e
ser encaminhado para outra turma durante o ano letivo, quando
entravam novos alunos geralmente a prioridade era por comportamento ou seja, alunos que algumas colegas professoras não queriam em sua salas. Foi necessário provar após muito trabalho para a supervisão
e direção da escola que estas turmas deveriam ter um olhar
diferenciado e qual seria o objetivo da montagem da turma. É claro
que o aluno que não esta alfabetizado apresenta dificuldades de
comportamento e vice-versa. Embasei o meu trabalho, com estas
turmas, em Paulo Freire, Rubens Alves e Moacir Gadotti.
Como os alunos tinham
idades diferentes foi preciso pesquisar como trabalhar com tantos
interesses diferentes. A maioria da turma já demonstrava interesse
em trabalhar. Então considerando isto, elaborei com os alunos, e
apoio total da direção e supervisão, um projeto onde eles
deveriam elaborar como montar uma banca de vendas. O trabalho partir
do objetivo do que desejam fazer, então elaboravam o que cada um
sabia fazer e como poderiam fazer para alcançar o objetivo da turma.
Foram necessárias várias intervenções para auxiliar a turma
chegar em um censo comum. Estabelecemos montar no aniversário da
escola uma banca de vendas de comidas e bebidas para a comunidade.
Partindo dessa ideia, trabalhamos com receitas em sala usando a
escrita e leitura, a matemática onde eles calculavam os custos e
valor da venda de cada produto visando o lucro, a história envolvida
no processo de produtividade da sociedade, a geografia era
trabalhada na origem de cada produto usado e a origem de cada receita
e em ciências trabalhávamos a necessidade da higiene no preparo
dos alimentos.
No preparo das comidas
eles dividiram a turma em grupos e cada um ficou responsável em
elaborar a comida sob a minha supervisão. Eles também decidiram
qual seria a função de cada um e a escala de trabalho no dia da
festa. Com o dinheiro arrecadado a turma decidiu o que fariam. Neste
ano fomos no cinema e compramos pipoca para cada aluno. Usamos ônibus
de linha pagando a passagem de cada aluno. Ao término deste trabalho
fiz uma avaliação com a supervisão do que foi aprendido pela turma
e o que aprendi com o projeto. Foi interessante parar e avaliar pois
pude perceber e registrar que houve um avanço na aprendizagem da
turma no conhecimento e no afetivo. A turma no inicio não estava constituída como grupo era cada um por si e que após este trabalho
estava muito visível para a escola que agora eles eram um grupo unido
e conseguiam se enxergar pertencentes à escola. No decorrer dos
outros anos continuamos a este trabalho, mas acrescentei o projeto de
filmagem em sala após participar de um curso de cinema onde quatro
alunos participaram comigo. O curso foi disponibilizado pela
mantenedora para os professores da rede em 2007. Este projeto foi
estruturado em parceria com os alunos do curso e os colegas de sala.
Eles tinham a função de levar o que aprendiam e aplicar, sob minha
supervisão, as mesmas atividades.
A turma também optou que
estilo de filmagem realizariam e para isso pesquisamos os diferentes
estilos desde documentário até um filme. No primeiro ano fizemos um
documentário, no estilo sala de debates, sobre a escola. O roteiro
foi escrito e registrado pelos alunos sendo corrigido em aula. A
parte da filmagem foi estruturado, com seus diferentes focos, pela
turma. Este trabalho envolveu, além da professora referencia, a
professora de francês, a professora de educação física No ano
seguinte, seguindo este processo, a turma optou por realizar um filme
no estilo de Charle Chaplim após analisar diferentes estilos de
filmes nacionais e internacionais e pesquisar sobre sobre sua vida e
obra. Novamente este trabalho disponibilizou que os alunos
trabalhassem a leitura, a escrita e a matemática de uma maneira
lúdica e próxima aos seus interesses.
A turma criou o filme; “
As trapalhadas de um trapalhão na usina do Gasômetro.
Foram envolvidas neste
trabalho as professora de arte, que montou com os alunos a capa do
DVD, e língua estrangeira. Com este filme montei um projeto para
participar do professor Excelência da rede e ganhei o terceiro lugar.
Fomos comemorar a premiação em um restaurante, a conta foi paga com
o dinheiro arrecadado com a banca da turma na festa da escola. No
decorrer do tempo os alunos iam avançando em sua aprendizagens, mas
acabavam ficando até o final do ano e com isso, mudamos a dinâmica
de uma turma de progressão, para finalizarem o trabalho iniciado.
Com as turmas A30 o
processo de deu de uma maneira lúdica, onde junto com o grupo de
professores da turma buscávamos atividades diferentes para
aprenderem o que não haviam conseguido em três ou quatro anos. Em
das turmas de A30, tive uma aluna com retardo mental. Esta aluno
novamente me obrigou a pesquisar como trabalhar com essa necessidade.
Conversando com a supervisão da escola iniciei o trabalho partindo
do nome da aluna e criei o saco das palavras conhecidas da aluna,
palavras muito repetidas durante as aulas.Foi gratificante observar o
crescimento desta aluna.
No final do Iº ano ela
já identificava algumas palavras e escrevia o seu nome sem o uso do
cartão. Na matemática já conseguia quantificar até três. No ano
seguinte, optamos em deixar esta aluna no ano ciclo por visualizarmos
possibilidades de avanço e a família solicitou que continuássemos
o trabalho, a aluna terminou o ano lendo palavras simples e
realizando contas simples de adição até 10 e contas simples de
subtração.
Para registrar este
trabalho foi elaborado em conjunto com todos os professores um
Arquivo Biográfico da turma onde registramos a caminhada e
arquivamos trabalhos de todos os trimestres.
É interessante parar
agora e relembrar estas situações de aprendizagem, eu aprendi muito
com meus alunos, onde como um planejamento consciente da realidade do
aluno facilita a participação e envolvimento na sua aprendizagem.
Estas experiências
diferentes me transformaram em uma professora desafiadora e inovadora
pois aprendi que sempre devo observar meus alunos antes de buscar
informações com suas professoras do ano anterior para não
estabelecer um pré-conceito.
Além disso ao buscar
novas possibilidades de trabalhos e respeitando o PPP da escola, pude
construir ações pedagógicas que mudaram o meu olhar e a minha
percepção de professora.
Atualmente em meu
trabalho, sempre considero o perfil da turma e o que ela esta me
falando de suas necessidades. Considero que como professora eu devo
estar sempre me transformando junto com a turma buscando novos
conceitos que vão auxiliar nesta transformação ou que no minimo
possibilitem o acesso dos alunos a novas maneiras de aprender. Como
cada aluno tem o seu tempo de aprendizagem e a sua maneira de
aprender devo sempre considerar que vou avaliar o aluno por ele mesmo
e como se deu o seu processo de aprendizagem.