QUEM
CONTA UM CONTO AUMENTA UM PONTO
Narradores de Javé
Logo após ler o material da
interdisciplina de Literatura, fiquei lembrando o filme Narradores de Javé que vi no semestre
anterior. Nesse filme, uma cidade que está prestes a ser inundada para a
implementação de uma Usina, da qual os moradores devem sair e abandonar suas
casas. Em sua visita aos engenheiros responsáveis pela obra, um morador
descobre que se a cidade tiver algo importante que se enquadre no conceito de Patrimônio
Público, poderá ser salva.
Retornando para a cidade, esse
morador convence a população em “escrevinhar” as histórias faladas do povo do
Vale de Javé. “Para tal evento decidem convocar o ex-funcionário do correio,
Antônio Bia, que havia escrito cartas difamatórias da população para não perder
o emprego, que deverá fazer” um juntado da história Santa da cabeça do povo sem
escrever uma patranha[1]”.
“(...)
o homem conta história – para tentar entender a vida, sua passagem pelo mundo,
ver na essência alguma espécie de lógica”. ( Encantos para sempre,
pág. 4)
Durante as sessões de
escrevinhamento das histórias, vão aparecendo os personagens e suas histórias,
mas cada versão vem povoada de sentimentos pessoais ligados a descendência, ou
não, em relação ao fundador da cidade que se chamava Aécio.
Ao rever esse filme, considerei o
texto Encantos para sempre de Ana Maria Machado, onde a autora coloca a
passagem da oralidade dos Contos de Fadas para a escrita. Nessa ação, tivemos a
compilação dessas histórias pelos Irmãos Grimm, Hans Christian Anderson e
Perrault que formaram uma trindade. Cada um desses implantou novas ideias que
levaram a elaboração de novas histórias que trabalham até nos dias de hoje com
o imaginário infantil. Esse imaginário faz com que a criança acredite
desacreditando nas histórias. Ela se torna uma leitura interessante que vai
sendo passada de geração a geração.
Quando o povo de Javé inicia o
relato das suas histórias cantadas, pode-se observar que cada morador vai
aumentando um ponto ou modificando algum trecho antes narrado por outro morador
e assim a história se torna inventada e perde a sua essência e a sua
identidade, tal qual aconteceu com os Contos de Fadas quando sofreram novas
adaptações que alteraram sua essência e a sua legitimidade como história que
tem como função trabalhar a catártica da ação / punição. Criou-se o desastre
literário e psicológico.
Como ocorreu com essas modificações,
o vale do Javé não salva sua cidade em função de não conseguir “escrevinhar” [2]
sua história e cultura para o papel. Ao final do filme o escrevente, como
chamado pelo povo da cidade, coloca para a população que Javé não vale nada,
não tem nada que justifique a sua salvação. A população sai de Javé e a sua
cultura e histórias se perdem do mundo nas águas da sua inundação.
Essa história eu chamo de Conto
popular.
Refrência:
Vídeo Narradoes de Javé -https://www.youtube.com/watch?v=Trm-CyihYs8
Publicado em 21 de abr de 2012
Filme brasileiro que retrata a cultura sertaneja e processo da oralidade histórica
.
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